terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Embifamento status

Após 3 anos e meio de emigração:


Já:

Dispenso a colher no copo de café/leite/chá. Reparei que temos (os portugueses) o hábito de manter a colher no copo de galão ou de leite com chocolate, coisa que por aqui não acontece. Aqui prepara-se tudo, mexe-se até dissolver o açúcar e toca a levar a bebida pró sofá/secretária/banco do jardim etc. Esta mudança ocorre dentro dos primeiros 2-3 meses.

Envio postais de natal/aniversário sem escrever nada. Aqui os bifes mandam postais por tudo e por nada. (se alguma pessoa fica 2 dias de baixa recebe logo um cartão, se está grávida, se deixa o emprego, se lhe cresce uma unha partida, enfim). Assim no primeiro Natal qual não foi a nossa surpresa que nos começaram chover cartões de natal, quer de colegas de trabalho que nem gostamos, quer de vizinhos de quem ainda passado 3 anos não sabemos o nome. Claro está que para um tuga "naive", só faz sentido escrever um postal se for para escrever um romance.. Essa já aprendemos, agora recebem um postal com a mensagem que já lá vem e apenas assinamos.. Esta mudança ocorre após o primeiro natal cá.

Cumprimento as fêmeas com aperto de mão. Ok aqui depende um pouco do contexto, mas mesmo em situações não profissionais de natureza apenas social as bifas estendem logo a mão. Caso se trate de um belo exemplar da raça o tuga que é tuga faz-se de inocente e avança para o beijo usando o aperto de mão como forma de "puxar" a bifa. Esta mudança acontece no primeiro dia.


Ainda não:


Bebo chá com leite. Só o cheiro deixa-me enjoado. Sou olhado de canto e com suspeita quando bebo um chá (infusão) à portuguesa. Beber chá dessa forma não passa pela cabeça de um bife. Jamais.

Saio no frio da noite/tarde só de t-shirt. Os naturais de cá têm necessariamente que sentir a temperatura de forma diferente. É impossivel aguentar o frio como eles. E já nem falo apenas de sair à noite. Na semana dos -5ºC durante a tarde não faltava gente às compras só em t-shirt ou vestido!!

Conjugo o verbo: "I was, you was, he was, we was, they was." Ainda não percebi a origem disto, mas até na radio e televisão é assim que se diz. O "we were" ou "they were" não existe.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Somedays it can only go worse..

É o diabo,

Como já referi tive Man-Flu. Sou muito homem, mas quanto a constipações sou mesmo florzinha de estufa. Em cada ano fico constipado praí 7 ou 8 vezes que me duram praí uns 4-5 dias. Desta vez já dura há nada mais nada menos que 3 semanas (obviamente que o fim de semana passado de encontro de tugas em Manchester, com íntimos momentos de partilha de estirpes virais teve grande culpa neste prolongamento da doença).

O que é que um gajo precisa quando está constipado e tem mesmo que ir trabalhar? R: Precisa que tudo corra "smoothly" como se diz por cá. (Também gostava que assim fosse)

4a feira (dia da folga):
Cheio de tosse, arrepios, nariz vermelho lá me levanto às 6h15 para tratar de levar o carro à MOT. ( Difícil levantar a esta hora com saúde, imaginem sem ela!).
Trato de tudo e volto prá cama. Acordo sem apetite e vou para o sofá onde passei o resto do dia a água, paracetamol e lenços de papel. O termómetro diz-me 39ºC, mas no meu subconsciente paira o facto de no dia seguinte ter de me levantar antes das 5h30am para ir trabalhar.
5a feira:
Noite toda a suar com febre. Felizmente tinha um copo ao lado da cama para me manter hidratado. Vou para beber mais um pouco e reparo que no copo tinha um ensopado de lenços de papel usados (ou cientificamente dizendo, uma cultura de vírus).
5h30 e toca a levantar. Além de todos os sintomas já referidos ainda me doíam as costelas todas (3 semanas a tossir de 5 em 5 min). Depois do banho e já de fato dou última olhadela ao espelho. Reparo que como consequência de ter usado lenços de papel durante 3 semanas tenho bocados de pele e sair por todo o lado, tanto no nariz como na zona toda do bigode. Tento arrancar com as unhas os bocados maiores de pele pendurados, mas desisto. Usei antes um creme, mas espalhou mal na cara pois optei não arriscar fazer a barba (doente às vezes, burro nunca!). Olhei uma última vez para o espelho e não pisquei o olho.
Já no corredor espirro. Espirro de violência tal que em vez de atchim saiu um áááhhhhhhh e fiquei de joelhos agarrado às costas. Num milisegundo a Ana não só tinha acordado como já me estava a ajudar a levantar a perguntar de estava bem (diz ela que pensava que eu tinha caído pelas escadas abaixo).
Só pensava, "que raio de profissão esta que não posso ligar "off-sick"".
Saio de casa e penso "yes, agora já não há volta a dar, consegui resistir a faltar ao trabalho"
Com o frio que estava lá segui em passo acelerado para o carro, que estava estacionado praí a 100metros da porta de casa. Com sapatinho fino só se ouvia o "toc toc toc" dos meus sapatos no silêncio que só a escuridão das 6h20am proporciona. Um snapshot de mim a 10metros do carro seria o meu corpo todo no ar, em posição horizontal ao mesmo que grunhia um vigoroso ááááhhhhh. Quando aterrei no chão em cheio com a minha nádega esquerda pensei que tinha morrido. Por longos segundos ví-me no chão, sem qualquer capacidade para me mexer. Fiquei completamente estendido com a cabeça praticamente a espreitar o chassi do BMW do meu vizinho. Estiquei o pescoço a ver se conseguia ver alguém, mas nada, ou vá lá, vi alguém do outro lado de uma estrada perpendicular. Só pensava "como é que vou trabalhar?/não são só os velhos que escorregam no gelo/vou ter de ligar à Ana"... Como não conseguia chegar ao telemóvel deixei-me estar uns 2 minutos... (pensava na minha figura, um jovem de 28 anos vestido de fato e gravata, estendido no chão, com a cabeça quase enfiada debaixo de um carro).
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Como a farmácia abria às 7 lá tive de me pôr a pé a muitíssimo custo e lá cheguei ao carro.
Obviamente que a viagem (20km) correu bem. (tinha o mija-mija a funcionar, nada podia correr mal).
Pior mesmo é que o estacionamento prá farmácia fica a não menos de 1km da mesma. Já mais "arrefecido" da queda, mas ainda não seguro que não tinha partido o cóccix, foi ver-me a andar com estilo. Digamos que quem me viu na rua a caminho da farmácia ficou com a ideia que passei a noite em práticas sexuais aberrantes.
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O dia de trabalho em si foi aquele que se pode esperar quando se está constipado. Assoar o nariz entre cada receita, correr para todo o lado, dor de cabeça etc.
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Fim do dia e o sentimento de alívio é incrível.
Chego a casa e estaciono o carro no mesmo sítio onde estava de manhã.
Saio do carro e vou directo ao sítio onde tinha caído de manhã com o propósito único de deslizar o meu sapatinho fino no pedaço de gelo cristalino onde tinha escorregado de manhã e pensar para mim mesmo "realmente escorrega como o diabo".

O sentimento de alívio manteve-se até chegar à porta de casa. A tremer com o frio e cheio de arrepios procuro impacientemente a chave de casa. Vejo os bolsos, a mochila, e NADA. (acho que neste ponto mandei 4 ou 5 caralhadas em bom Português..)

Depois de insultar até a rainha lá decidi que teria de passar umas 3 horas no carro à espera da Ana.


Happy End:
Ao voltar paro o carro, ao passar no sitio onde tinha caído de manhã, olho para o chão e encontro as chaves de casa, que lá tinham ficado desde o incidente matutino. Chaves essas que tenho para mim, estavam no bolso mais fundo, só para terem uma ideia do que eu rodei antes de ter aterrado no chão.


PS1: Não admira que o Portuguese Pharmacist seja uma espécie altamente procurada. Duros como o aço e altamente dedicados ao trabalho.

PS2: Qualquer dia este blog volta à linha editorial anterior, com reflexões sérias sobre o mundo da farmácia.

PS3: Quando estiverem temperaturas negativas tenham muito cuidado com o gelo

Como travam conhecimento os elementos da raça "emigra tuga"

Que os emigras tugas se juntam à mesa já todos sabem, mas como é que eles se conhecem pela primeira vez é que é a questão!

A resposta é: Das mais variadas e simples maneiras.

Exemplo:

Praí há um ano atrás, num Sábado de manhã, fui ter com o Júlio a Bolton (não é Paris nem Londres) para irmos tomar um café e meter a conversa em dia (sim tal como as mulheres, os homens também vão ao café para pôr a conversa em dia, embora falem de coisas práticas e com sentido).

Íamos então a passar pelo mercado a caminho do café Costa em amêna cavaqueira.
Ao caminharmos passamos uma jovem que caminhava no mesmo sentido mas ligeiramente mais devagar, e durantes aqueles 5 segundos de ultrapassagem, a conversa foi esta:
Eu: "Pois é como te digo Júlio, o Benfica é merda..." (não foi isto, mas sei que disse um palavrão...heii sou de Braga!)
Ela*: "humm são Portugueses?"
Eu: "somos!"
Ela: "eu também!"
Eu: "Queres ir tomar um café?"
Ela: "Ok"
(Isto sem nunca ter abrandado o passo)


* Ela: Estivemos umas 2 horas numa conversa bem agradável. Uma rapariga que tinha chegado há 3 dias ao UK,  e que tinha decidido apanhar o comboio para Bolton (que não conhecia) só para passear. Tinha deixado o emprego de jornalista em Portugal e tinha arriscado vir para o UK procurar emprego. Sei que esteve por cá 1 ou 2 meses em que não conseguiu arranjar emprego e que depois voltou, mais pobre e sem o emprego que tinha deixado. (fica aqui o alerta para quem pensar que é só aterrar cá e que depois tudo de resolve)


PS1: Tenho este charme, que é que posso fazer?
PS2: Meninas não sejam tão aventureiras. É que depois ainda passamos na casa do Júlio, onde tomamos chá, e o Júlio ainda a levou de volta a Manchester de carro. E se não fossemos assim tão bons rapazes e a porta se tivesse fechado por dentro? É que "socorro" aqui ninguém sabe o que é que quer dizer.
PS3: É como já tenho dito, há uma atracção natural por seres que partilham a nossa identidade tuga, daí que o pessoal se vá encontrando e conhecendo.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

MOT top tips

MOT (que deriva de "Ministry of Transport") é o nome que se dá à inspecção anual do carro.










O meu mobil fez então o seu 3º aniversário e foi altura da sua primeira MOT. Neste ponto Portugal ganha ao Reino Unido sobre a forma como regulamenta todo o processo de inspecção automóvel. Em Portugal a inspecção automóvel é feita em centros específicos onde não se fazem reparações automóveis enquanto que no UK a maior parte dos locais onde se fazem MOTs são também locais de reparação. Isto gera uma situação totalmente promiscua... Que a maior parte dos mecânicos são vigaristas já todos sabemos, mas nesta situação têm a faca e o queijo na mão.. Com o nosso historial de carros velhos desde que chegamos ao UK sei do que falo por experiência própria.

Deixa-se o carro (sem qualquer problema aparente) para fazer a MOT, e uma hora depois quando se volta, é certinho que lá vamos receber um papel vermelho e dizer "failed"... ou porque são os travões, ou porque há ferrugem onde não se consegue ver ou porque o rádio não funciona, sei lá. Tenho para mim que a juntar a tudo, o facto de chegar ao mecânico com um sotaque diferente também não ajuda.
Obviamente que após dar a notícia de que o carro falhou na MOT, o mecânico diz logo que consegue reparar as falhas todas por um pequeno balúrdio, e que caso faça as reparações nesse mesmo sítio, a segunda reavaliação (re-test) será gratuito. Caso decida reparar as falhas noutro local, terá de pagar o valor de uma nova MOT (£35-£60). Toda esta comunicação é feita sempre com um sorriso amarelo com vários tiques de chico-espertice (como falar de forma a que ninguém entenda).

Ora bem, este ano decidi fazer diferente, e lá fui à internet procurar a forma de evitar este esquema dos mecânicos. E cá fica a sugestão de um site genial : moneysavingexpert que consulto quase semanalmente. ( Recomendo vivamente a qualquer residente no UK)

Basicamente as câmaras municipais têm centros de inspecção automóvel com o propósito de fazerem a inspecção de todos os seus carros e autocarros, mas que também estão disponíveis a fazer MOTs a qualquer cidadão com um carro particular. Aqui sim, não fazem reparações, não têm interesses manhosos entre diagnóstico/reparação.

Assim ontem lá liguei para o mais próximo:

Eu: "Hello, can I book a MOT for tomorrow"
MOT centre: "You certainly can. I've got three free slots, 7h30, 12h30 and 2h30"
Eu: "Let's do it at 7h30 then" (enquanto pensava: "nãooooooooo porquê é que tou a escolher tão cedo?"...)
MOT centre: "Can I take your name?"
Eu: "J-O-S-E as in José Mourinho, and the surname is..."
MOT centre: "that's fine, it's enough"

Hoje não consegui evitar mandar uma gargalhada em frente do homem quando, depois de ter pago a inspecção, me deu este recibo:

Dando conclusão ao post anterior do mija-mija, quero reiterar o sábio conselho que vos dei "não poupem no mija-mija". O diabo do carro falhou na inspecção por causa de uma luz da matricula e porque o mija-mija não funcionava (congelado!!). Os -5º às 7h30 da manhã não ajudaram. Mas correu bem, pois uma hora depois já a matrícula tinha luz e o meu mija-mija (concentrado, que aguenta até -20º) fluía sem problemas, indo eu a caminho de casa com o problema da MOT resolvido por mais um ano.

PS: Não há dia de folga que saia da cama antes do meio dia (só pra terem uma ideia o quão desgastante o trabalho de emigrante é), embora ache sempre que seja um desperdício do dia e pense sempre que na próxima folga é que vou mesmo levantar de manhã cedo. O facto de ter marcado logo por impulso a MOT para as 7h30 da manhã, é um fenómeno deveras interessante. Somos racionais ao ponto de tentarmos truques e artimanhas para controlar a nossa "irracionalidade"... Não é um animal lindo o ser humano?