Ora viva,
Já há bastante tempo que este blog não se debruça sobre qualquer tema relacionado com a área da farmácia. Acontece que só vale a pena fazê-lo caso o tema cause controvérsia, ou no mínimo, algum debate (exemplo1, exemplo2).
Desta vez a temática recai sobre o uso do supositório.
Confesso que nunca tinha perdido um segundo da minha actividade cerebral sobre a temática do uso correcto de um supositório. Nunca me tinha passado pela cabeça que houvesse alguma dúvida ou alguma ciência sobre este tema. Nunca, até recentemente.
Acontece que no facebook há um grupo muito interessante da área da farmácia, onde farmacêuticos relatam, sobretudo, histórias caricatas sobre o dia-a-dia da farmácia. Neste grupo sou um mero espectador e para dizer a verdade, pouco assíduo e nada participativo. Foi até a Ana, que também perplexa, me chamou a atenção para uma pergunta lançada neste grupo:
"Qual é a forma correcta de administração de um supositório"? A resposta dos meus colegas farmacêuticos foi unânime, no sentido em que um supositório deve ser inserido com a extremidade recta e não com a cónica!
Todos argumentaram que foi assim que aprenderam durante as aulas e que até constará nos manuais de tecnologia farmacêutica. Eu não me recordo, mas isso não serve minimamente de argumento. Confesso que me senti inferiorizado como um qualquer membro do público a ver argumentação de especialistas da área sobre determinado tema, uma vez que (na minha cabecinha) inserir um supositório "ao contrário" faz tanto sentido como uma mulher usar um vibrador ao contrário ou como um submarino lançar um míssil ao contrário.
Bom, o que é certo é que não fiquei, nem estou convencido.
Cá ficam os meus argumentos:
Como ninguém consegue negar, é menos doloroso a inserção de um supositório pela parte cónica. É ainda mais fácil empurrar o supositório com o dedo contra a base recta e plana do mesmo.
Pesquisei em sites de referência e nos folhetos informativos de vários medicamentos e a informação obtida foi sempre a mesma: O supositório deve ser inserido com a extremidade cónica: (dulcolax, voltarol, netdoctor, patient.co.uk). Empresas como a Novartis e Boehringer Ingelheim iriam ter instruções erradas nos seus folhetos informativos? As entidades reguladoras (EMEA, FDA) permitiriam e aprovariam folhetos informativos com instruções erradas?
Mais importante do que qualquer opinião é este facto: Se a Novartis, companhia farmacêutica que desenvolveu o Diclofenac (Voltaren, Voltarol) coloca nos seus folhetos informativos que o supositórios devem ser inseridos através da parte cónica, é porque acredita que é essa a forma correcta. Isso implica que tenha sido essa a forma de administração durante todos os ensaios clínicos de desenvolvimento do medicamento. Todos os resultados de farmacodinâmica, farmacocinética e consequentemente doses e posologias recomendadas têm em conta esse facto. Uma administração de forma diferente não respeita o licenciamento do medicamento. (Por exemplo, um medicamento que seja esmagado e dissolvido em água é realmente mais fácil de engolir, mas isso não respeita o processo de desenvolvimento do medicamento nem o respectivo licenciamento do medicamento).
Não quero parecer um velho do restelo, mas acho que deve haver espírito critico parente qualquer estudo que nos seja apresentado, e sobretudo enquadrar isso na realidade.
Até ver, continuo a dar o aconselhamento que sempre dei.
Agora crucifiquem-me aqui na praça pública.
PS1: Se eu estivesse seguro de que alguma informação contida num folheto informativo de um medicamento estivesse errada, imediatamente exerceria o meu dever de farmacêutico e contactaria as entidades responsáveis a alertar para tal facto.
PS2: Creio piamente que qualquer que seja o sentido em que seja inserido um supositório, o efeito clínico será o mesmo, ou na pior das hipóteses muito semelhante.
PS3: O youtube nunca permitiria a publicação de uma falácia:
Eu prefiro os comprimidos.
ResponderEliminarAcho que os defensores dos supositórios os deviam meter num sítio que eu cá sei.
Ao ler o teu post revi tudo o que também pensei na altura!!!
ResponderEliminarNão me lembro de ter aprendido isso sobre os supositorios e acho pouco logico!!!Vá lá não fui a unica!!
Para quando fotos das obras mais recentes??
beijinhos aos 2!!
Na própria faculdade os professores não se entendem. Os de tecnologia defendem a introdução pela parte recta; os de farmacologia dizem que isso é um disparate. Eu realmente lembro-me do meu professor de tecnologia falar no assunto...mas acho que não tem qualquer sentido.
ResponderEliminarVá que alguém concorda com este lado da opinião.
ResponderEliminarCatarina: As obras estão a 33% diria. Uma boa parte feita, mas uma maior ainda por fazer. Temos de acabar antes do natal para receber as visitas! Eu vou tirando fotos ao longo do percurso e depois partilharei.
A teoria subjacente é a do Impulso. Sendo o esfincter anal um músculo circular, se o supositório está para sair do recto, a contracção do mesmo esfíncter faz com que por impulso (se a parte cónica estiver do lado de fora), o supositório volte a subir e retorne a posição onde deve ser mantido. Por isso se deve administrar a parte cónica para o lado exterior. Esta é a teoria do supositório. :) Espero ter ajudado para esclarecer.
ResponderEliminarO último comentário corresponde ao que aprendi na faculdade! ;)
ResponderEliminarTambém aprendi o mesmo que o anónimo das 19:48h! Em Tecnologia Farmacêutica.
ResponderEliminarJorge
A coisa mais importante que retirei da faculdade foi aprender a pensar e a ter espírito critico. Não duvido que nas aulas de tecnologia que ensine tal forma de inserir um supositório à luz de um estudo feito (que até está na wikipedia). O que é certo é que o supositório foi desenvolvido para ser usado da forma convencional (inserido através da extremidade cónica) e que a comunidade internacional não reconhece a nova teoria da inserção do supositório "ao contrário", pois continua, quer a indústria quer as agências do medicamento a produzir folhetos informativos com a recomendação convencional.
ResponderEliminarNo dia em que se provar que o supositório deva ser inserido com a extremidade cónica para fora, é absurdo continuar a fazer supositórios com o formato actual, passando a ser lógico fazerem-se supositórios bi-cónicos.
Eugenio
ResponderEliminarFico então à espera das fotos!!
Ainda em relação ao assunto do Post...A Maria hoje foi tomar as vacinas do 2ºmes e teve que tomar um supositorio de ben-u-ron...
Pegando na tua deixa de espirito critico...O supositório,pelo menos na prática, tem toda a lógica ser introduzido pela parte conica.
Primeiro porque quero ver quem é que me diz que introduzir um supositório pela parte recta num bebé de dois meses é mais correcto e depois não tive qualquer problema em que a parte recta fosse em ultimo lugar.
A forma ergonómica do supositório torna a introdução dessa parte muito natural...
Portanto até prova em contrário não tem lógica introduzir um supositorio pela parte recta!!
A tecnologia inerente ao fabrico do supositorio nao o permite. é feito em molde... para se obter um supositorio biconico, ter~se~ia que desenvolver uma tecnologia que tornaria o supositorio um meio terapeutico mais caro, caindo em desuso, e portanto deixa de ter interesse desenvolver um novo formato que não o actual.
ResponderEliminar(continuando) os supositorios fazem-se como os batons, nao faz sentido mudar tudo isto. os batons e supositorios fazem-se em molde e nao representam um racio de rendibilidade que justifique a alteração da tecnologia de produção.
ResponderEliminarSei perfeitamente o processo de fabrico de um supositório, já o fiz nas aulas de tecnologia farmacêutica.
ResponderEliminarMas muito mau seria que em 2011 a indústria farmacêutica tivesse qualquer tipo de dificuldade em desenvolver um supositório biconico. Décadas depois de terem desenvolvido comprimidos de libertação prolongada, de capsulas com grânulos gastro-resistentes e até do uso das engenhosas ciclodextrinas.
Até os lápis do que o meu avô usou na escola já era vendidos afiados.