quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Investigação BBC

Cá segue um post sobre farmácia.

Esta segunda-feira estava eu a tomar um pequeno-almoço madrugador quando me deparo com a BBC news a transmitir esta reportagem sobre farmácias a venderem MSRM (em inglês POM-Prescription Only Medicines) sem receita médica.

Notícia BBC
Reportagem no BBC iPlayer (provavelmente disponível apenas para residentes no UK, e não por muito tempo)

Confesso que me deixou estupefacto. Eu que já trabalhei em mais de 30 farmácias diferentes e que tenho uma razoável rede de contactos entre farmacêuticos que trabalham em diversos pontos do Reino Unido, nunca tive a mais ligeira sugestão que algo do género pudesse ocorrer. Obviamente que o meu estado de inocência permitia que imaginasse que, como em qualquer profissão, houvessem profissionais menos éticos, menos competentes, mas não a este ponto.

De certa forma a comunidade farmacêutica britânica está chocada, e agora quer sangue. Eu também o quero. Aliás até enviei um email à ordem dos farmacêuticos de cá (GPhC) a mostrar a minha indignação com esta situação. Disse-lhes que deles os farmacêuticos esperavam um atitude firme e rápida. E que seria bom que as acções por eles tomadas chegassem aos meios de comunicação social. Passado uma hora já tinha resposta na minha caixa de email (e não foi uma resposta automática).

Notícia no Chemist and Druggist (site muito interessante do mundo da farmácia britânico), onde vários farmacêuticos deixaram comentários.

O modelo de farmácia britânico é apresentado vezes sem conta em Portugal como um exemplo errado, onde até vendem medicamentos no supermercado. Pois bem, nesta investigação da BBC conseguiram ao longo de algumas semanas comprar 24 comprimidos de viagra, 200 e tal capsulas de amoxicilina e 200 e tal comprimidos de benzodiazepinas (diazepam e temazepam)! Isto é a realidade da grande maioria das farmácias portuguesas todos os dias (o modelo de onde tudo funciona bem), mas aqui no Reino Unido causou choque. Políticos vieram falar sobre o assunto, o GPhC já confirmou que vão tomar medidas, a comunidade farmacêutica já se mostrou indignada.

Aguardo com interesse o desenrolar deste episódio. Que o GPhC tome medidas exemplares e que sejam dissuasoras, embora tenha a certeza que esta situação nunca aconteceu de forma generalizada*.


*
- Nunca ouvi qualquer tipo de comentário sobre qualquer farmácia a vender POM sem receita médica.
- Nunca nenhum paciente me pediu que lhe vendesse um POM sem receita, ou fez qualquer comentário de poderia comprar noutro lado qualquer.
- Quem conseguir ver a reportagem vai perceber que todos os pedidos para compra de amoxicilina ou diazepam foram feitos não em inglês mas numa língua árabe (provavelmente estes farmacêuticos pensaram que estavam protegidos dentro da "sua comunidade" não inglesa.)





9 comentários:

  1. Infelizmente em Portugal é o pão nosso de cada dia. E se tentamos fazer alguma coisa contra ainda somos uns mauzões, e temos o patrão a fazer força para vender tudo...

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  2. Infelizmente, até no melhor pano caem nódoas.

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  3. Estou chocada! A sério, nunca pensei que isto pudesse acontecer aqui. Também nunca ninguém me pediu um POM nem ouvi dizer que poderiam arranjar noutro lado. Quero acreditar que é uma situação isolada numa comunidade específica e espero que sejam retirados do GPhC, no mínimo. E que tomem mais medidas de controlo se necessário.. mas tal como diz no Chemist and Druggist "As always if there are one or two bad ones in the pot it's going to make it harder for everyone else." Obrigada por partilhares porque não tinha ouvido falar disto!!

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  4. Se procurarem bem, ainda encontrarão DIMS metidos nisso!

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  5. Anónimo: Bem sei da (triste) realidade Portuguesa.
    Alex: Pelos visto o pano não era de qualidade.
    Margarida: Qualquer um de nós que trabalha por cá fica chocado com isto.
    Advogado: Esta provocação fez-me rir logo pela manhã! obrigado

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  6. Olá, já a algum tempo ando a seguir este blog com muita apreensão. Sou farmacêutico em portugal. Já vi que as coisas por aí também não estão fáceis, mas mesmo assim estão melhores do que aqui. Não tenciono emigrar para o Reino Unido mas ando a considerar a Austrália. Para entrar lá com um visto de trabalho (skilled visa) é preciso uma acreditação da Ordem Australiana e uma bateria de exames. Tentar entrar diretamente de Portugal é quase impossível, mas para quem já trabalha aí parece ser mais fácil (fazer menos exames). Conhecem alguém que tenha sido bem sucedido numa tentativa destas? A Austrália parece ainda ser dos poucos locais com futuro, pelo menos nos próximos anos.
    Obrigado
    José Patrício

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  7. Ora viva Mr Patrício.

    Tens bastante razão quando dizes que a Austrália será um dos poucos locais com futuro para a nossa profissão. É realmente essa a ideia que tenho, e segundo acompanho em alguns foruns da área, parece ser um país onde o sistema de saúde funciona muito bem.

    Quando ao facto de pensares que é mais simples ir para lá a partir do Reino Unido, não teria tanta certeza. Os cidadão britânicos com a licenciatura em ciências farmacêuticas têm que se submeter ao mesmo tipo de exames e necessitam do mesmo visto de trabalho. Tanto quanto sei, em qualquer dos casos um farmacêutico tem que se submeter a 12 meses de estágio com provas finais de admissão. Não é nada simples.

    Pessoalmente tomei conhecimento de dois farmacêuticos que para lá foram (com os quais não tenho contacto e do percurso pouco soube), embora se fale que bastante Ingleses o estejam a fazer.

    Abraço

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  8. Gosto muito de ler o teu blog pois tmb vivo em Inglaterra e para além disso venho de uma família de farmacêuticos (pai, irmão, cunhada, primos) e por causa disso um assunto do qual não percebendo nada percebo um bocadinho.

    Da mesma maneira cm tu ficaste chocado tmb eu fiquei. Sei qual é a realidade portuguesa, infelizmente mais do q uma x fui à farmácia (em Portugal) e pedi para me venderem antibioticos sem receita e nunca tive problemas (sofria de amigdalites frequentemente e mtas vezes n tinha paciencia para ir para o hospital para me dizerem exactamente a mesma coisa de sempre), felizmente por ter farmacêuticos em casa nunca sequer me passou pela cabeça deixar uma caixa a meio pq já me sentia bem. Mas sei que é um perigo para toda a sociedade. Hj em dia já não tenho amigdalas e consequente a minha necessidade de antibioticos praticamente desapareceu.

    Tmb tive o cuidado de fazer o download da reportagem e levar para "casa" qnd lá fui pelo Natal, e achei interessante a opinião de 2 pessoas diferentes, uma pessoa ficou chocada e admirada pelas coisas q cá se vendem (cm a morfina liquida). Outra pessoa disse que falando com alguém que já trabalhou cá só não se vende mais medicamentos sem receita pq as farmácias não terão lucros se o fizerem.

    Obviamente estando cá a ideia q tenho é q cá não se vende pq simplesmente não se faz, não é correcto e ponto final. Mas tu estando no meio podes confirmar isto.

    E já agora... um Feliz Ano Novo!

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  9. Olá Catarina!

    Engraçado que tenhas tido o interesse em levar a reportagem aos teus familiares.

    Aqui não se vendem medicamentos sujeitos a receita médica sem a presença da dita porque todo o sistema de saúde funciona bem (ou seja, o acesso a uma receita médica é fácil, não envolvendo custos) e porque é ilegal. Não é uma questão de dar lucro ou não há farmácia. Os farmacêuticos visados nesta reportagem certamente nunca mais vão trabalhar como farmacêuticos e as próprias farmácias seguramente se não fecharem mudarão de proprietário. Existem sistemas de vigilância e de denuncia para quem cometer irregularidades, por isso as regras cumprem-se.

    Num post que publicarei em breve percebes que toda a obtenção de medicamentos sujeitos a receita médica de forma irregular é um assunto muito sério.

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