Numa altura em que só se fala em emigrar, fica aqui este texto que uma amiga nossa deixou no seu facebook no dia em que regressou a Portugal após quatro anos de emigração. Ela também uma farmacêutica comunitária.
"Após 4 anos de um "exílio" voluntário e extremamente enriquecedor em termos pessoais e profissionais, eis-me de volta à pátria lusa...
Sentimentos contraditórios no momento da partida, pois se é verdade que nunca planeei ficar por mais de 2 anos, o facto é que se estabeleceram laços com pessoas e lugares e uma parte de mim ficará sempre em Inglaterra...
Sentimentos contraditórios no momento da partida, pois se é verdade que nunca planeei ficar por mais de 2 anos, o facto é que se estabeleceram laços com pessoas e lugares e uma parte de mim ficará sempre em Inglaterra...
E, honra lhes seja feita, os ingleses sempre me trataram bem e provavelmente aquilo que melhor recordarei deles será a forma calorosa como quase sempre reagiram cada vez que respondia à inevitável questão "Where do you come from?" Claro que para a maioria deles, somos um país "tropical", mas sabem que somos hospitaleiros, temos bom clima, óptimas praias e uma gastronomia fantástica.
Acredito que não irei ter saudades da porcaria e da falta de higiene (das chávenas sujas com borra de chá ou café, dos pratos postos em cima da mesa sem um simples individual de papel, do açucar servido em cubos numa tigela, de quase ter que mendigar por um guardanapo - desculpem, mas recuso-me a limpar os dedos às calças -, enfim, pormenores que provavelmente fariam a ASAE fechar 99% dos bares, restaurantes e pubs ingleses), da recollha de lixo semanal/quinzenal, da preguiça e falta de ginástica mental, da coscovilhice e da má lingua. Mas sentirei saudades da boa educação, do civismo e da cortesia, da tolerância (por vezes em demasia...), da honestidade, da transparência e da boa fé. Sei que irei lamentar não estar em Inglaterra cada vez que um condutor irresponsável começar a buzinar, fizer ultrapassagens perigosas ou zigue-zague numa fila de trânsito; cada vez que um "chico esperto" tentar passar à frente dos outros numa fila; cada vez que um cliente tentar forçar a entrada na farmácia 10 minutos depois da hora de encerramento e se sentir no direito de ser atendido, sem o mínimo respeito por quem já terminou o dia de trabalho ou exigir que lhe sejam dispensados antibióticos, antidepressivos ou sedativos sem receita médica; e de cada vez que o meu banco me cobrar taxas, sobretaxas e imposto sobre as taxas ou o meu dinheiro ficar retido entre 24 a 72h após uma transferência bancária, mesmo entre contas do mesmo banco (!!!).
A todos os que se cruzaram comigo nesta terra adoptiva, o meu obrigada pelo apoio e carinho com que me brindaram, contribuindo para tornar mais colorida e inesquecível esta experiência emigrante; aos amigos tugas que deixo para trás e que tal como eu querem regressar, o meu voto de que num futuro não muito distante, tenham a mesma sorte que eu tive e lhes surja uma proposta de emprego irrecusável."
Maria Manel.
Porque, pelo menos no dia em que deixamos o nosso país, o plano passa sempre por regressar. Anos mais tarde alguns continuam fieis a esse plano e conseguem fazê-lo, outros nem por isso, nem tão pouco o querem fazer.
Penso que atualmente os planos passam muito por ir, mas sem data de regresso, especialmente para o farmaceutico comunitário. As condições de trabalho cá não são más, mas a falta de respeito consegue ser pior que as renumerações injustas, porque mesmo não recebendo o que devia, o farmacêutico tenta (ou deveria tentar) zelar pelo bem estar dos seus utentes, mas estes não reconhecem o esforço e julgam-nos macaquinhos a vender caixinhas
ResponderEliminarMuito bom texto. Parabens
ResponderEliminarCuriosamente, nesta ida a Portugal estive com uma amiga que voltou e outro que considera voltar. É muito interessante pois para mim regressar está, talvez por enquanto, fora de questão.
ResponderEliminarPenso que mesmo que me calhasse o Euromilhões, um daqueles prémios absurdamente exorbitantes que se tiveres mínimo de cabeça não precisas de voltar a trabalhar na vida, não voltava. Claro que iria lá passar maiores temporadas mas não regressava de malas e bagagens...
A sério? Eu num caso de um prémio desses criava a minha base em Portugal (assim num sitio remoto) e depois viajava o mais possível pelo mundo.
EliminarColega, estamos a tentar organizar algumas actividades para e pelos farmacêuticos em portugal e gostaríamos de conhecer melhor a realidade onde desenvolve a actividade farmacêutica.
ResponderEliminarProponho-lhe se quiser ajudar-nos a juntar-se e enviar contacto para posteriores partilhas que considere interessante. Aqui envio o link: https://www.facebook.com/meufarmaceutico?fref=ts
Atentamente
Isabel