terça-feira, 14 de junho de 2011

Emigração pró UK - Anúncio publicitário

Viva,

Aqui há coisa de duas semanas fiquei com grande expectativa de ver na RTP1 uma reportagem Linha da Frente intitulada "Geração desenrascada"  que se debruçaria sobre esta mais recente vaga de emigração da geração portuguesa mais qualificada de sempre. Ora bem, não será necessário explicar o porquê deste interesse sobre reportagens deste género, uma vez que faço parte do tema visado. Mas além disso tenho bastante "curiosidade" em conhecer casos diferentes de sucesso e histórias de vida e aventura que a emigração proporciona, e para isso a blogosfera não encontra limites...(A minha curiosidade não é sobre a pessoa individual, mas sim por exemplo, de saber "como é" que um farmacêutico Português trabalha nas caraíbas, ou como é que um engenheiro trabalha em Singapura).

Mas voltando à reportagem, devo dizer que fiquei decepcionado. Após uma apresentação inicial da reportagem em que falam da vaga de emigração da geração mais qualificada um pouco por toda a Europa e pelo mundo, chapam-nos com um autêntico anúncio de promoção da emigração para o UK. Parece um tutorial de como emigrar para o UK desde o momento em que se contacta a agência de trabalho, passando pela viagem e terminando no alojamento. O mais decepcionante foi que apenas mostraram histórias de Portugueses a emigrarem para o UK.




Nem sei que outros comentários tecer, mas assim realmente fica baratinho fazer reportagens, e com uma viagem apenas pela Ryanair "conseguimos" mostrar o recente fenómeno de emigração dos Portugueses pelo "mundo fora".


Quanto ao fenómeno recente de emigração de jovens qualificados de Portugal tenho a dizer que é o inevitável e que na minha opinião só tenderá a aumentar.
Isto resulta directamente de meia dúzia de factores (em relação a apenas uma década atrás):
 Primeiro: Total falta de controlo sobre o ensino superior em Portugal, com uma inexistente relação entre as necessidades reais do mercado de trabalho e as universidades formadoras de profissionais qualificados. Selva será uma palavra acertada para descrever o ensino superior em Portugal.
 Segundo: É cada vez mais fácil emigrar. Dentro na união europeia, e burocracia é inexistente. As novas tecnologias permitem "encurtar a distância" e assim acabar com o "monstro" da saudade.
Terceiro: O preço das viagens é muito mais acessível e a oferta cada vez maior. (qualquer um pode com facilidade voltar a casa 3 vezes por ano)
Quarto: Não é possível educar o jovens e fazer dos mesmos seres pensantes, inteligentes e cultos e esperar que estes se satisfaçam com um salário de 500-700€ mensais... Sobretudo numa fase em que todos nos vamos pavonear para as redes sociais com as muitas e exóticas viagens que fazemos, fotos do carro novo, do iphone novo, etc... É de facto uma situação castrante e depressiva. Os mesmos 500€-700€ que fazem uma pessoa de um meio rural com menos estudos muito feliz, vão inevitavelmente ser insuficientes para um licenciado com uma vida social  mais agitada e diferentes ambições/sonhos na vida. (sem qualquer desrespeito para nenhuma das partes, isto não deixa de ser muito verdade). Esta situação aliada e uma falta de perspectivas de progressão profissional, com um mercado de trabalho marcado por favores, cunhas e falta de transparência leva obviamente a este estado de insatisfação, que a meu ver é a grande razão para esta Diáspora

Haverá muitas mais razões com certeza, até porque emigrar para uma perspectiva de vida semelhante ou apenas ligeiramente melhor à actual, ninguém o faria... (digo eu)


#Espero que não venhamos a ser os polacos do UK, ou os Ucranianos de Portugal, pois as sociedades tendem a ser bastante cruéis e injustas a estigmatizar emigrantes sem respeitarem a sua individualidade.

Cumprimentos

13 comentários:

  1. Obrigado por falares nisto porque n desconhecia a reportagem.

    A RTP e a sic têm bombardeado os espectadores com reportagens deste genero nos últimos 2/3 anos. Não tenho tenho nada contra o tema mas abordam sempre da mesma forma (tal como tu disseste). até pensava que era uma que tinha visto ha uns 2 meses pq foi praticamente igual e no mesmo canal!

    Focam sempre malta que esta aparentemente bem e dizem alto os ordenados de quem ganha mais...ocultando os restantes.

    dizem que é simples. que se consegue arranjar emprego estando em portugal de forma simples coisa que n achei (a n ser que agora seja diferente) e so conheço 1 caso em que isso tenha acontecido. Que se ganha imenssamente bem sem nunca referir qt se paga de custo de vida numa cidade destas.

    Reparei que a tecnica de anatomia patologica (curiosamente uma formação que em Portugal serve para ir para a Pizza Hut(veridico)) e o medico dentista n tiveram problemas de dizer quanto ganham. Já as Arquitectas preferiram dizer que era tanto numa semanha como um mes em pt (que seria uns 500?!). Ora posso afirmar que esses 2 primeiros casos fazem parte dos 10% de britanicos mais ricos (incluindo aqueles tubarões da banca de investimento):

    http://news.bbc.co.uk/1/hi/8151355.stm
    "the top 10%? The ASHE figures reveal that a salary of £44,881 is enough"
    25% ganham acima de 31K...

    Muito Portugueses formados que estão cá sonham com um ordenado desses estando a viver em Londres com todo o custo que isso acarreta.

    Quero dizer com isto que estas reportagens tentam passar que a maioria dos formados que vierem para cá receberão ordenados quando nem metade provavelmente vão receber.

    Num outro sentido. A ideia de que um licenciado sabe alguma coisa apenas por ter canudo é uma farça. Essa coisa da "fuga dos cérebros" faz-me um pouco confusão. Como é que temos milhentos gestores a saírem das faculdades todos os anos e somos uma nódoa na gestão? Ou milhentos arquitectos e só um punhado (e estou a ser simpatico) é que faz algo que tenha algum impacto?(para fazer um projecto n precisamos de esperar por um atelier XPTO, papel e lapis serve para quem sabe).

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  2. No final mostraram 3 enfermeiros que iam viver todos na mesma casa (e uma criança). Quantos licenciados em Portugal admitem viver assim? Preferem viver em casa dos pais ou comprar uma casa própria fora das suas possibilidades do que engolir o orgulho e morar com mais uns quantos desconhecidos.

    A certa altura alguém da reportagem queixava-se que queria algo mais estavel para "fazer carreira" em vez de contractos de 6 meses 1 ano. Mas agora querem-me convencer que carreira faz-se com longevidade do contracto? cá tudo começa com um periodo experimental de 6 meses (no geral) e varios vao para a rua durante esse período. Candidatas-te a um cargo superior internamente? novos 6 meses onde te podem despedir no dia. Esta facilidade de despedimento funciona também como facilidade de contratação. O que a entrevistada procurava não era "carreira" mas um tacho.

    A certa altura escreveste:
    "porque emigrar para uma perspectiva de vida semelhante ou apenas ligeiramente melhor à actual, ninguém o faria... (digo eu)"
    e dizes bem. mas conheço alguns casos assim. quem trabalhassem na HM em lx...e agora na HM em Londres. Mas isso porque têm diferentes objectivos de vida. Vir para Londres é para viver a vida de Londres. Conhecer a cidade por dentro sobrivivendo tal como seria em Lx. E isso respeito, trabalham.

    Agora esta ideia das gerações de hoje de que são todos génios incompreendidos e que ninguém lhes dá emprego/tacho/ordenado que querem irrita-me.

    Desculpa se estou a ser um pouco azedo (e pelos erros gramaticais/ortográficos) mas não consigo dizer as coisas nos termos que o fizeste (e bem).

    passando agora ao objectivo que era este comentário. disseste e bem que esta geração n se contenta com 500/700€ ao contrario dos nossos pais ou avós.

    e gostava de deixar aqui um documentario que explica isso.

    http://www.youtube.com/watch?v=ZfOiMCVvWOs

    Chama-se Status Anxiety. Que o "jornalista" Alain de Bottom diz ser uma nova doença deste século.

    O livro é mais pormenorizado e está barato:
    http://www.amazon.co.uk/Status-Anxiety-Alain-Botton/dp/0141014865/

    Ele diz muitas cenas obvias mas que me deixaram a pensar (antes de vir para cá). Se tinha emprego carro estabilidade...porque raio me sentia com necessidade de sair?

    Porque é que estás mais desiludido hoje do que os teus progenitores nos tempos em que trabalhavam de sol a sol sem quaisquer perpectivas de futuro?

    Autoestima = Sucesso / Expectativas

    Tal como escreveste tem tudo a ver com espectativas (eu avisei que era uma cena obvia). Mas de onde vem essa espectativa? Como fomos todos mimados como génios temos altissimas espectativas...e medimos isso constantemente com o que consideramos próximo ou igual. mas que na realidade é sempre uns degraus acima de nós. De modo que temos carro bom emprego mas o nosso antigo colega de faculdade ganha ainda mais e isso faz com que eleves a tua espectativa diminuindo a tua autoestima e aumentando a tua ansiedade...de status.

    Estou a espera de reacções do tipo "ah e tal eu não ligo ao que os outros fazem e tal"...mas é mentira. ha sempre um tema de comparação. Senão não estariamos tao tristes como estamos quando ninguém anda a morrer de fome.

    e pronto, foi um comentário um pouco pró grunho mas fica a ideia.

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  3. Ora bem, aqui concordo com praticamente tudo que disseste... Aliás disseste para cima de 10 coisas de forma muito acertada que encaixam na minha forma de ver o mundo.

    Bem verdade que de forma geral o ser humano só fica realizado quando está numa posição superior aos que lhe estão imediatamente à volta.. O mesmo ser humano que vende um rim para ter um Iphone, seria a pessoa mais feliz do mundo em certos países de África se tivesse água e comida.. No entanto ainda há muito boa gente que consegue ser feliz independentemente da riqueza dos que o rodeiam, mas isso requer muita estabilidade e riqueza intelectual.

    Quanto a essa doença "Status Anxiety", sempre existiu, mas claramente as redes sociais vieram expor ainda mais este problema.

    Quando falo na geração mais qualificada de sempre, digo-o com alguma ironia.. Outrora estivemos no bom caminho, mas actualmente o ensino superior em Portugal é um negócio enorme com pouca preocupação relativamente à qualidade dos novos "génios"..

    É verdade que somos totalmente protegidos e mimados pela família durante adolescência e durante muitos anos após atingirmos a idade adulta... somos "educados" para não esperar menos que um cargo de chefia como o primeiro emprego... (Isto é muito diferente da situação do UK por exemplo, e será o tema de um tema futuro em breve aqui no blog)... Interessante e difícil de compreender é a situação que apontaste dos Licenciados que querem ser tratados por Doutor em Portugal e viver à grande, sozinhos num apartamento novo com 3 quartos e com carro novo comprado a crédito, e que quando emigram perdem todo o orgulho e já conseguem viver com um carro com mais de 10 anos e numa casa a partilhar com mais 4 ou 5 pessoas de variadas nacionalidades... É de facto um aspecto curiosíssimo .

    Obrigado pelo comentário, "spot on"!

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  4. Eugénio,

    tenho seguido o teu blog, mas nunca tive a oportunidade de deixar um comentário. Desde já parabéns pelo blog e obrigada por teres partilhado este documentário.

    É verdade que mais pessoas vão chegar e só desejo que venham ocupar as posições de emprego para as quais estudaram. Não acho mal nenhum que sejamos ambiciosos que todos queiramos ter um diploma universitário. E de facto, o facto de terem uma licenciatura só vale se provarem que são bons naquilo que fazem. Infelizmente, em Portugal muitas vezes nem sequer há uma hipotese para mostrar o quão bom ou mau são, e eu acho que isso é um dos motivos que desanima qualquer recém licenciado. Por outro lado, a cultura do trabalho "para sempre" que os nossos pais tiveram está a mudar (e muito bem, na minha opinião), mas a verdade é que a alternativa não é a melhor. A precariedade é o que assusta. Serem tratados quase como escravos e a incerteza de que senão continuarem ali onde é que vão arranjar um novo emprego acho que faz tremer qualquer um. Na minha ex-area, arquitectura, é simplesmente escandaloso o que se trabalha e o que (não) se ganha. Aqui tenho que descordar com o "London Calling", ser arquitecto é altamente frustante, porque nem todos conseguem trabalhar em projectos aliciantes e tudo o resto são projectos inviáveis desde o momento em que o cliente não tem dinheiro para construir o que quer.

    Mas no que toca a viver no Reino Unido, acho que existe toda uma ilusão. Os primeiros tempos são difíceis (ou foram para nós)e ainda hoje enfrantamos comentários ou coisas que nem sempre gostamos. Ainda me lembro do teu post sobre os vários nomes que já te chamaram sem acertarem no Eugénio! Os salários são melhores mas a vida também é mais caro - o que pago para a ama do meu filho é irreal (sobretudo em comparação com Portugal). Mas o que me parece é que o UK dá a perspectiva de uma boa vida, que neste momente não existe em Portugal. Aqui, se formos bom naquilo que fazemos somos reconhecidos por isso. Depois de provarmos que somos capazes, conseguimos "subir" na carreira pelo nosso próprio mérito, e eu acho que é isso que é aliciante, ter a noção de que trabalho no duro, mas que isso é visto com bons olhos e incentivado.
    Não moramos em Londres, e sabemos que os ordenados em Londres são mais altos que no resto do país, mas os custos também são muito mais elevados. Compreendo que seja aliciante ir ganhar 35k ao ano... mas fazendo bem as contas, em Londres nem será assim tanto. Mas é uma experiência de vida como outra qualquer e acho que todos têm o direito de a ter.

    Enfim... acho que já ando às voltas no meu comentário. A mensagem que queria deixar é que não é fácil, e que muita das comodidades são deixdas para trás, mas uma vez reconhecidos as hipoteses de suceder bem na carreira e na vida são elevadas.

    Eva

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  5. Olá
    Tenho acompanhado o teu blog gosto ler os pontos de vista dos outros.
    Só uma pergunta porque achas o Ensino Superior em Portugal uma Selva?
    O que achas que achas que está mal no Ensino Superior português?
    Mafaldinha

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  6. Eva: Dizes bem quando dizes que se vive um clima de ilusão quanto ao Reino Unido.. Isso assusta-me, e blogs como o meu ou o do London Calling alertam para isso com frequência... Diria que quanto a casos concretos de pessoas que vieram de Portugal para o UK conheço tantos casos de sucesso como de falhanço (em que passarem por cá uns meses à procura de emprego e voltaram a Portugal mais pobres). Pessoas muitos motivadas, com capacidade de sacrifício de capazes de abdicar de muito num período inicial poderão ser bem sucedidas... Mas também ajuda muitíssimo ter uma qualificação que esteja em "demand"..

    Quanto ao teu nome tenho a certeza que nunca de enganam a escrever, mas a forma como dizem já será outra história muito mais complicada, não é "iive"? lol

    Cumprimentos

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  7. Mafaldinha: O que está mal e que uma grande fatia do ensino superior deixou de ter controlo do estado... faculdades privadas com qualidade muito duvidosa proliferam por todo o país e no final não há nenhum exame geral de "controlo de qualidade"... Caso concreto de farmácia, na UP entramos com média mínima de 17 valores e após um curso exigente com muitos professores de elevada reputação saímos com uma média de curso de praí 13 valores. Noutras Universidades entra-se com médias de 12-13 valores e termina-se com uma média praí de 16 valores.. Isto quando num curso ministrado por recém licenciados... O pior de tudo é a não existência de um exame nacional para uniformizar e averiguar a qualidade dos licenciados formados (tal como existe no UK por exemplo)..

    O ensino privado em Portugal é uma mina de dinheiro, e investidores sabem disso. Enfim, nem todos têm que ser doutores, há uma enorme necessidade de quadros médios altamente qualificados.

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  8. É mesmo isso!!!É ver as médias de acesso de 10 valores dos alunos de CF para a U. Fernando Pessoa!!! Nunca pensei que CF pudesse ser um curso de frequência nocturna!!!! Mas pelos visto dá para isso!!!!

    http://www.ufp.pt/images/stories/ingressogeral/M%C3%A9dias%2010.11%20RG.pdf

    Jorge

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  9. Não é de admirar então a diferença de qualidade entre os profissionais da mesma classe.


    Vergonhoso

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  10. Mais um grande post. Ia-me alongar mais mas acabo sempre a escrever o que alguém já comentou.

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  11. Qualquer dia venho comentar este post e concordar contigo, mas não vai ser hoje lol

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  12. Bem,tao certos se formos qualificados temos mais chances de conseguir vingar noutros paises.. Mas isso nao significa que só por nao ter um canudo nao me possa acontecer o mesmo! Porque so falar nas pessoas qualificadas, pois eu nao tive hipoteses como muitos tiveram de ir para a faculdade.. mas sei que tenho tantas capacidades ou mais que muitos que foram para a vida louca aka faculdade, eu acho que é uma questão de empenho e forca de vontade como e todos os trabalhos e não ficar á espera que me caiam as oportunidades do céu .. Mas se eu trabalhar e mostrar capacidades para tal porque não ? Só porque não tenho um diploma?!

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  13. Ja estou a comentar um bocadinho fora de tempo, mas o engraçado é que nunca se fala sobre o trabalhador dito "normal", sem o canudo que faz subir o nariz de muita gentinha, princpalmente em Portugal. Existem muitas pessoas com o 12º ano ou escolaridade inferior,dispostos a desempenharem e activos em outras funções.

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