sábado, 20 de novembro de 2010

Baby Aspirin...


Os velhotes são uma delicia quando chega o momento de lidar com sintomas ou nomes de medicamentos!
Isto torna o dia-a-dia numa farmácia muito mais divertido, e por isso o meu muito obrigado a estes utentes, desde já por existirem... Do período em que trabalhei na farmácia em Portugal, lembra-me bem que encontrar o medicamento pretendido era tipo jogar o jogo "Quem é Quem" em que vamos recebendo pistas uma a uma... tipo: sherlock

Pista1: Caixa quadrada
Pista2: É pró Castrol
Pista3: Custa praí 30 aerios
Pista4: Os comprimidos são redondos e cor de rosa

(O nome do medicamento é por vezes a última pista, que raramente surge)

Um ajudante de farmácia com alguns anos de casa, e portanto muito mais "útil" que um farmacêutico recém qualificado, atiraria logo: "Deve ser a sinvastatina"
Mas para ter a certeza confirma com:
"Toma à noite?"

Se a resposta for afirmativa tá confirmado!up

O utente paga (bastante!) já com desconto, e depois arranja a receita para o medicamento que leva para casa, e que caso o ajudante técnico seja um bom vidente, será o correcto! Quanto ao sistema que temos em Portugal só me urge dizer: "Que atraso de vida!" Para quando um sistema informatizado, no qual fica registado toda a medicação que cada utente adquire nas farmácias???
Obviamente que o grau de literacia/educacional de uma população não pode ser mudado numa geração, mas o sistema de saúde poderia facilmente ser actualizado de forma a aumentar a segurança dos utentes do SNS!
Onde é que anda o choque tecnológico no mundo da farmácia???
E já agora que raio de intervenção pode um farmacêutico ter se ao dispensar a medicação não tem acesso ao "histórico" do utente? Como é que vai saber se o utente mudou a dose? Como é que vai saber se o utente está a receber medicamentos diferentes da mesma classe (muitas vezes prescritos por médicos diferentes levando à gravíssima duplicação de medicação)? Como é que verifica interacções? Vai ver se o novo medicamento interage com o quê? Com o pão e água que certamente consome todos os dias?

Por isto tudo, realmente tem muito mais utilidade um ajudante técnico experiente que um farmacêutico cheio de conhecimento teórico.. Teórico porque realmente nunca vai passar à prática...

Fica aqui uma foto de um medicamento que dispensei no último dia que trabalhei na Lloyds:

Cada caixa dispensada leva um rotulo. Assinado pelo técnico que dispensou e pelo farmacêutico que o verificou! Além de todo este processo tornar seguro o sistema de unidose (duplamente verificado), também aumenta a segurança para o utente ao apresentar as instruções de como tomar o medicamento, a identificação do utente, o contacto da farmácia e a data de quando o adquiriu (toda esta informação pode ser importante em circunstâncias diferentes)! Além disso significa que a dispensa deste medicamento já foi registada no ficheiro informático do paciente, e lá ficará para a posteridade! Permite na altura da dispensa uma apreciação farmacêutica enquadrada com o "histórico da medicação" deste utente, e lá ficará no ficheiro para uma futura consulta aquando da dispensa de nova medicação...
Mas claro, algumas vozes poderão sempre dizer, que farmacêutico no UK é assinar caixinhas...doh


Mas adiante! No UK, também há situações que me fazem sorrir! Hoje uma ajudante da farmácia (que começou esta semana) veio perguntar-me o que é que uma utente estaria a requerer, pois tinha pedido pela "Baby Aspirin"! Sorri e disse-lhe que ela queria a Aspirin 75mg.

Esta situação faz-me voltar uns meses, até ao momento em que pela primeira vez ouvi falar na "Baby Aspirin"! É a Aspirina que em Portugal é pedida como a "aspirina para o coração" (que em Portugal normalmente é 100mg), mas que no UK muitas vezes é tratada por "Baby Aspirin" ou "Junior Aspirin"!
Na altura trabalhava na Lloydspharmacy, e ouvi uma utente pedir à técnica (Health Care Assistant) pela Baby Aspirin! Ora o Farmacêutico tem responsabilidade por TUDO o que é dispensado ou vendido na farmácia, e na altura ainda pouco a par dos produtos existentes na Inglaterra fiquei assustado que alguém pudesse vender algum produto com aspirina para uma criança! nervous Sei lá, com o nome Baby aspirin, pensei que pudesse ser algum produto contendo aspirina para bebés ou crianças!! Xarope sei lá scared

Portanto, tal como velhotes ao balcão de uma farmácia a tentar adivinhar que medicação tomam, farmacêuticos Portugueses recém chegados ao UK são uma risota!


Nota: A Aspirina, tal como todos os salicilatos só devem ser usados por pessoas com idade superior a 16 anos. O uso de salicilatos (como a Aspirina) está associado com o síndrome de Reye (frequentemente muito grave) em crianças, embora normalmente esta facto esteja sempre associado com a presença de uma infecção viral! Sobretudo numa altura de pandemia de origem vírica, não é demais relembrar e desaconselhar o uso de Aspirina em menores de 16 anos. Paracetamol e Ibuprofeno são as melhores opções.

7 comentários:

  1. Ao ler o teu post, lembrei-me da minha odesseia quando tentei comprar alguma coisa para as frieiras do meu irmão...se não fosses tu ainda agora estava a pensar como raio se diria frieias..porque ninguem entendia a "doença", por mais que se explicasse. :) Mais uma vez obrigada

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  2. Desculpa esqueci-me de assinar cristina nunes

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  3. Embora o sistema ai esteja de facto mais evoluido, em Portugal já existem farmácias que fazem, com uma declaração assinada pelo doente, o acompanhamento farmacoterapêutico do mesmo, registando-se o historial da medicação que realiza. Mais, o software existente possibilita a execução de alarmes em caso de mudança de dose, compra do mesmo medicamento num espaço de tempo inferior ao n.º de doses disponivel por embalagem (alertando para possivel sobredosagem), e por ai fora. Tudo depende da forma como trabalhamos enquanto farmacêuticos, e obviamente também das direcções técnicas. Abraço

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  4. Optimas notícias!

    De qualquer modo deveria ser prática obrigatória em qualquer farmácia.

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  5. Sim deveria ser obrigatório. Mas a maioria das farmácias ainda não vê (não vê lucro) em realizar este ipo de acompanhamento. Felizmente existem excepções à regra. Essa da baby aspirin ja aconteceu comigo tambem quando um grupo de turistas seniores visitou a farmácia a procura da dita cuja. La tive de fazer não sei quantas perguntas para saber para quem era e para que situação era. Quando me falaram que era tomada diariamente para prevenir AVC's.....ficou tudo explicado. Abraço Jorge

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  6. É verdade, Yev. Já existe o sistema que o Jorge descreve nas farmácias portuguesas. Necessita de um consentimento dos utentes (para não levantar problemas com a Comissão Nacional de Protecção de Dados) e segue todos os passos que o Jorge referiu. Fiz formação e trabalhei um ano numa farmácia onde se utilizava esse sistema. Dá muito jeito mas ainda conta com muita relutância por parte dos próprios utentes. É dificil explicar-lhes os benefícios.

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  7. sou fã deste grupo de utentes pelas situções caricatas que nos proporcionam. Fascinantes! Não resisti a colocar o post da "sinvastatina" no meu blog. Pode ser? Cumprimentos

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