sábado, 20 de novembro de 2010

O bullying dos genéricos...




Uma senhora com quase 80 anos num Centro de Saúde do Minho:

Paciente (senhora de quase 80 anos): Ah e preciso de mais sinvastatina
Médica: Tá bem, mas olhe que quando for à farmácia eles têm de lhe dar desta marca que diz aqui.
Paciente: Eu sei lá, eu dou a receita à minha neta e ela trás uma qualquer, já tomei tantas diferentes,são todas iguais.. (olhem lá a lucidez!)
Médica: Eu quero que compre desta marca e se na farmácia não tiver eles conseguem arranjar para o dia a seguir.. se não comprar desta marca não lhe faço mais receitas..


Nem sei se comente! Estas foram exactamente as palavras usadas pelos dois intervenientes na conversa.. Ou seja uma verdadeira vergonha..

Analisando ao detalhe: O utente é que pede ao médico para que lhe passe receita para continuação da terapêutica. O médico ameaça o utente que caso não alinhe na actual negociata com o laboratório lhe interrompe a terapêutica!! O médico argumentou com o outro ser racional que tinha à frente as vantagens dessa tal marca? NÃO! O médico queria este laboratório de genéricos porque foi aquele que o paciente sempre tomou e assim reduziria os riscos de confusão por parte do idoso em ter caixas diferentes? NÃO, aliás na consulta anterior prescreveu marca de genérico diferente...
Caso a farmácia não tivesse a marca de genéricos prescrita ( o que não é difícil olhando à quantidade existente) o utente foi aconselhado a encomendar para o dia seguinte. Esse utente tem a farmácia mais próxima a 10 km de casa e desloca-se de transportes públicos. Isso interessa alguma coisa? NÃO...


É uma verdadeira vergonha, e o grande culpado quem é? Eu diria que é como no futebol, é o sistema.. Neste caso sem dúvida que é a entidade reguladora do medicamento, o INFARMED, que realmente só pode estar completamente minado por interesses e corrupção!
Se um medicamento é aprovado como um medicamento genérico de um determinado medicamento de marca original por uma autoridade competente, não pode haver mais conversa sobre isso. Não é o utente, nem o delegado de propaganda médica, nem o médico no seu consultório nem o farmacêutico na farmácia que podem mandar palpites (que não passam disso) que um genérico seja melhor que o outro, ou é um genérico aprovado ou não é!

Tudo isto faz-me lembrar uma aula que tive no 4º ou 5º ano em que o professor dizia que nós em Portugal eramos especiais, tinhamos uma categoria de medicamentos que não existia em mais lado nenhum na Europa, os "Genéricos de Marca", porque genéricos mesmo ainda não existiam. Na altura não percebi bem se isto faria muito sentido ou diferença, mas agora vejo que eram palavras sábias..


PS: Isto do Bullying é realmente divertido, e não é que agora a potencial poupança em relação ao genérico mais barato vai aparecer na receita!! Pelos vistos o Estado/Infarmed não conseguiu controlar a polvo e espera que sejam os utentes a fazer bullying sobre os médicos... Muito interessante mesmo..

3 comentários:

  1. Olá Eugénio! Este retrato que fizeste é exactamente a nossa triste realidade portuguesa, acatada por uma Ministra da Saúde e uma autoridade do medicamento rendida aos prazeres da indústria farmacêutica. A corrupção é enorme, está à vista de todos mas parece que todos os portugueses andam anestesiados! É preciso uma revolta por estas bandas! Abraço

    ResponderEliminar
  2. á escrevi três comentários que acabei por apagar. O teu blog é bom demais para a exaltação de linguagem que saía de todos eles. Mas de facto isso é um nojo do ca...

    ResponderEliminar
  3. E quando vamos à casa da velhinha e olhamos para o saco dos medicamentos e damos conta que ela está a tomar duas sivastatinas e dois ibp's? pois é, infelizmente muita coisa está mal, mas uma das coisas que está mto mal é o farmacêutico deixar de der farmacêutico, e ser o que é neste momento um "merceeiro". Se o "merceeiro" não pensa-se só em lucro não dava à velhinha cada vez que ela vai à farmácia uma sinva e um ibp diferente. Se o "merceeiro" não não tivesse negociatas com os laboratóios simplesmente fazia aquilo que lhe competia - dispensar o medicamento e aconselhar com a toma. só tenho pena de não ter encontrado o seu blog mais cedo...

    ResponderEliminar